Amarelo é alegria, é ânimo, é festa e festival, é a vida radiosa em todo o seu esplendor.
Amarelo dos raios brilhantes do sol que nos aquecem a alma e dão ânimo e alegria fazendo rodopiar os girassóis que fizeram parte do meu ramo de noiva em conjunto com as margaridas amarelas que também foram bordadas no meu vestido de noiva, amarelo dos limões que colhia do limoeiro que vi crescer no quintal dos meus pais, e que alegremente trepávamos nos seus galhos para os colher e transformar em litros de limonadas que refrescavam as quentes tardes de Verão da grupeta.
Amarelo dos pintainhos que nasciam sem qualquer aviso, dos patinhos que os meus pais compravam nas manhãs de Sábado no Mercado da Ribeira e que eu corria atrás deles para lhes colocar lacinhos coloridos.
Amarelo das amarguinhas que vestiam os campos que atravessávamos em bando a caminho da escola e que sugávamos entre esgares de prazer e de amargor numa alegre pangaida cantando a plenos pulmões We all live in a yellow submarine, a yellow submarine, a yellow submarine.
Amarelo do Woodstock, o passaroco que em pensamentos diz tudo aquilo que nós também gostaríamos de dizer mas que guardamos para nós, amarelo do Sítio do Picapau Amarelo que encantou toda uma geração e que tanta saudade deixou com a boneca Emília e o seu cabelo amarelo esfarrapado, amarelo do Tweety, o canarinho amarelo que estava sempre a ver um lindo gatinho.
Amarelo das paredes da minha sala e dos muros do meu quintal, onde num dia de inspiração pintei um sol amarelo, amarelo no quadro de um pintor de rua que no Brasil nos encantou, amarelo nas minhas orquídeas que de novo estão a desabrochar em todo o seu esplendor, amarelo do vestido que por acaso hoje vesti.
Se toda a gente gostasse do amarelo como eu gosto ….
Todas as quartas feiras e durante 12 semanas publicamos um texto novo inspirado nas cores dos lápis da caixa que dá nome ao desafio no blogue da Fátima
Esta semana no Desafio da Caixa dos lápis de cor, vamos pintar as palavras de cor de rosa, cor da ternura, do amor, da inocência, do romance e das histórias cor de rosa.
"Rino era um rinoceronte que vivia há muito tempo no jardim Zoológico, diferente de todos os outros pela sua pele em tons de rosa.
Levava uma vida calma e pachorrenta entre as suas sestas prolongadas e os seus grandes banhos na água lamacenta.
Fazia grandes banquetes com as ervas e as folhas que lhe davam para comer e que fazia questão de as mastigar demoradamente prolongando as suas refeições num ritual cheio de prazer e de satisfação.
Fez grandes amizades com pássaros coloridos de todas as espécies que o visitavam durante o dia animando-o ao som dos seus alegres chilreios e lhe provocavam fortes gargalhadas com as cócegas que sentia quando eles lhe debicavam das suas costas rosadas os incómodos insectos que teimavam em picá-lo o dia inteiro.
Mas Rino começou a sentir-se sozinho, principalmente à noite, quando os seus amigos passarinhos iam dormir. E começou a ficar muito triste. Tão triste que já nem as crianças para quem ele gostava tanto de olhar e de lhes acenar com a pesada cabeça, lhe alegravam. Até a sua pele rosada começou a esmorecer.
Mas um dia em que dava mais um mergulho na lama, um barulho esquisito fê-lo olhar para o céu. Viu um grande caixote cor de rosa a descer por uma grossa corda de um helicóptero.
Quando o caixote cor de rosa aterrou, Rino aproximou-se com muito cuidado. De repente, o caixote abriu-se e de lá de dentro, saiu a mais bela rinoceronte cor de rosa que ele já vira, com um grande laço cor-de-rosa a enfeitar-lhe o grosso pescoço.
Começou a cheirá-la, e logo começaram a roçar os seus chifres rosados. Primeiro devagarinho, e depois furiosamente. Nesse momento, teve a certeza de que esta era a rinoceronte da vida dele.
Decidiram então fazer uma grande festa em tons de rosa para celebrar o seu casamento, para a qual foram convidados todos os animais do Jardim Zoológico, que trouxeram rosas cor de rosa, gomas, chupas, balões, papelinhos e serpentinas tudo em tons de rosa, apadrinhados pelo casal de flamingos mais rosa que já se vira.
E viveram felizes uma longa história cor de rosa, em alegres brincadeiras no meio da lama com os rinocerontezinhos de pele rosada."
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Esta semana vamos pintar as letras em tons de azul claro, cor da calma, da quietude, do relaxamento, da divagação, da serenidade, da tranquilidade, da suavidade, do espírito e da devoção, mas também da melancolia e da tristeza.
Desde as segundas feiras mais tristes do ano, as apelidadas de Blue Monday, que os New Order nos puseram a dançar frenéticamente, ao compasso entoado em coro do refrão de Song Sung Blue do saudoso Neil Diamond, à Blue Jean de Bowie do eterno olho azul, aos Blues em geral, em notas cantadas num timbre arrastado num som triste e melancólico, a quando Elton John tentou adivinhar why they call it the blues e que todos sonhavamos com o seu Baby que tinha blue eyes, like a deep blue sea, on a blue, blue day e que tanto sofremos com o amor impossível espelhado no olhar azul tão claro da soldada russa, Nikita.
Né Ladeiras levou-o no seu sonho Azul, Azul, Azul da cor do céu, os Delfins clamaram que a Cor Azul vai-nos salvar, quero ver o teu olhar azul a brilhar no meu caminho, para Djavan o amor é azulzinho, foi sem mais nem menos que os Trovante selaram a 125 Azul, e os Rádio Macau tentaram mandar pintar o céu em tons de azul, mas só depois notaram que Azul já ele era.
Estava eu a divagar sobre como pintar as letras em tons de azul claro, recostada numa cadeira azul a olhar o infinito do mar azul onde saltavam golfinhos por cima de uma baleia azul, com o meu bloco de notas de capa azul, qual Marlene Dietrich no Anjo Azul, com uma campânula azul a prender o cabelo, a ouvir a banda sonora do Veludo Azul, com um copo de Blue sapphire, o pensamento a vaguear rumo ao céu tão azul, coberto de bandos de andorinhas azuis, quando despertei deste sonho azul com os trinados desafinados do meu periquito azul.
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Alice era uma menina muito irrequieta e curiosa que gostava de dar grandes passeios com o seu cão bonacheirão Titão de pelo longo e frondoso.
Um dia, em que o sol brilhava com um sorriso radioso, Alice e Titão saíram a correr, aos saltinhos e aos pulinhos diretos ao parque no fundo da sua rua.
Quando lá chegaram, Titão começou a rosnar e a abanar freneticamente a sua cauda.
- Oooohhhhhh!!!!! – Exclamou Alice maravilhada – Um escorrega gigante cheio de curvas e de contracurvas.
E logo Alice trepou para o alto do escorrega gigante com Titão às suas cavalitas, preparando-se para umas voltas valentes.
E escorregou, e rodou, e rodopiou numa dança maluca que parecia não ter fim, sentindo-se a flutuar num espaço imaginário.
Sentiu-se a pousar, e meia tonta, meia zonza, abriu bem devagarinho os olhos, olhou lentamente à sua volta e abriu a boca de espanto.
À sua frente um lago de água cristalina de onde saltavam peixes dourados e prateados rodeado por árvores verdejantes e frondosas que abanavam os seus ramos e as suas copas de onde voavam pássaros de penas coloridas que chilreavam alegremente, indo pousar em flores de todos os tamanhos e de todas as espécies que se moviam para todos os lados, tudo isto ao som de uma música misteriosa e cheia de magia.
Titão ao seu lado ladrava furiosamente tentando escapar-se de um coelho branco que lhe dava patadinhas no seu focinho.
- Sejammmmm muitoooooo bemmmmvindosssss ao País das Cantigas– cantou o coelho num timbre afinado.
-Souuuuu o coelhoooo Tobiasssssss e vouuuu ser o vossoooo ciceroneeee por esteeee paísss encantadooooo.
E imediatamente apareceu a dançar pelos ares a águia Bataglia que com o seu bico bicudo pegou cuidadosamente nos visitantes levando-os por entre uma pauta de mil sons, fazendo-os pousar sobre o lombo do javali Malaquias que cantava estridentemente acompanhado pelo veado Tobias que agitava ritmadamente as suas hastes.
- Aquiiii todossss temossss que cantarrrrrr – assobiou o esquilo que se agarrara ao ombro de Alice.
- Mas eu não sei cantar – disse Alice com um ar cabisbaixo.
- Toda a gente sabe cantar – guinchou harmoniosamente o macaco Paquito – É só fechar os olhos e ir bem fundo dentro da nossa alma. Todos temos alma de cantor. É questão de encontrar o nosso próprio ritmo e nunca imitar ninguém. Cada um é como cada qual. Cada um é diferente do outro.
De repente à sua frente Alice tinha um coro de animais que cantavam alegremente cada um no seu tom, cada um à sua maneira e feitio.
Uns em tons mais graves, outros agudos, e outros nos baixos. Sopranos, contraltos e tenores, de tudo havia um pouco e muito mais do que aquilo que se podia imaginar.
Quase sem se aperceber Alice começou a cantar uma melodia de tons mágicos acompanhada por Titão que gania musicalmente, enquanto que uma chuva de estrelas cintilantes lançava pozinhos dourados fazendo com que Alice que dançava agarrada a Titão começasse a flutuar.
E de novo se sentiu a rodar e a rodopiar numa dança sem fim mas tão harmoniosa que sentiu os seus olhos a fechar.
Foi então que sentiu a língua quente de Titão que lambia furiosamente a sua cara, suplicando para lhe levar à rua.