Um Dia na Praia
Naquele lindo e radioso dia de Verão em que o sol, bonacheirão, exibia o seu melhor sorriso em todo o seu esplendor, Necas foi à praia.
Logo de manhãzinha, bem cedo, a mãe vestiu-lhe o seu fato de banho preferido, azul da cor do céu recheado de mil e uma flores amarelas como o trigo que decora os campos.
Foi ao armário buscar o seu saco transparente como a água do lago, onde meteu o balde verde, a pá e o ancinho cor de laranja, o moinho vermelho e as forminhas coloridas como o arco-íris.
Depois de se certificar que a mãe levava as suas sandes favoritas, muita água e sumos de fruta, não esquecendo o creme branco com aquele cheirinho tão bom que a fazia parecer uma índia em pé de guerra, agarrou na sua toalha felpuda cor de rosa povoada de bolinhas azuis e brancas, e ajeitou o chapéu de palha florido que teimava em não se equilibrar nos seus caracóis doirados que lhe enfeitavam o rosto como cachos de uvas maduras.
Durante a viagem, cantou a plenos pulmões em uníssono com os seus pais cantigas tradicionais, acompanhando com muitas palmas, até avistar o mar de um azul luminoso, onde flutuavam pequenos barcos, que se agitavam ao tom das ondas.
Saiu do carro a correr, tropeçou nas suas sandálias, e caiu redonda na areia cálida.
Rebou vezes sem conta com os braços abertos, tentando guardar para si o maior número de grãos que as suas mãos papudas conseguiam agarrar.
Correu num sprint louco até à beira do mar, e brincou à apanhada com as pequenas ondas que tentavam agarrá-la uma e outra vez, sem darem tréguas ou demonstrarem cansaço.
O pai colocou-lhe as braçadeiras da cor das violetas à volta dos braços rechonchudos, e a bóia com a cabeça de pato refilão à volta da cintura, enquanto que um cardume de pequenos peixes lhe passava rente às pernas.
Depois de ter molhado o pai, a mãe, e toda a gente que à volta deles se encontrava e que também entraram na brincadeira, Necas foi nadar.
Ainda andava a aprender.
Todas as semanas a mãe levava-a à piscina do clube ao pé de casa, e já dava umas boas braçadas. Gostava de nadar de costas, mas o seu estilo preferido era o nadar à cão, vá-se lá saber porquê.
Mas mais importante do que tudo, é que já sabia como controlar a respiração dentro da água.
Encheu o seu balde verde com água, e fez um castelo gigante de areia, para aí morarem o rei e a rainha da praia, com os infantes que corriam sobre as ondas e falavam a linguagem dos peixes.
Foi passear pela praia à beira do mar, e apanhou conchinhas e búzios de todas as formas e feitios.
Ao chegar ao pé das rochas, uma luz brilhante como um clarão despertou-lhe a atenção.
Ao aproximar-se cautelosamente, descobriu para seu espanto e gáudio, uma pequena sereia deitada.
Metade mulher com uma longa cabeleira ruiva que lhe passava a cintura, e metade peixe, com uma cauda cheia de escamas prateadas que reluziam sob o sol.
A sereia olhou para Necas com um sorriso doce, e explicou-lhe que estava a meio de uma grande viagem a caminho da casa sua tia, onde ia conhecer a pequena sereia recém nascida, da qual ia ser madrinha.
Necas, fascinada, perguntou-lhe sobre a sua casa e a sua vida.
_ A minha casa fica bem lá no fundo do mar onde nenhum humano consegue chegar. Vivo rodeada de plantas verdejantes que gostam de se enrolar na minha cauda brilhante quando salto de coral em coral. Brinco o dia todo com peixes de todas as cores, galopo em cima de cavalos marinhos, danço e toco castanholas com lagostas e sapateiras, exploro grutas com corredores intermináveis-.
Com muita pena de Necas, despediu-se para retomar viagem, não sem antes lhe oferecer a maior Estrela do Mar que Necas alguma vez vira.
Nesse preciso momento, o pai chamou Necas para se irem embora.
Mal entrou no carro, aninhou-se e adormeceu com um sorriso maroto, a pensar na linda sereiazinha e que bom que seria poder brincar com ela.