Alice no País das Cantigas
Alice era uma menina muito irrequieta e curiosa que gostava de dar grandes passeios com o seu cão Titão de pelo longo e bonacheirão.
Um dia, em que o sol brilhava com um sorriso radioso, Alice e Titão saíram a correr, aos saltinhos e aos pulinhos diretos ao parque no fundo da sua rua.
Quando lá chegaram, Titão começou a rosnar e a abanar freneticamente a sua cauda.
- Oooohhhhhh!!!!! – Exclamou Alice maravilhada – Um escorrega gigante cheio de curvas e de contracurvas.
E logo Alice trepou para o alto do escorrega gigante com Titão às suas cavalitas, preparando-se para umas voltas valentes.
E escorregou, e rodou, e rodopiou numa dança maluca que parecia não ter fim, sentindo-se a flutuar num espaço imaginário.
Sentiu-se a pousar, e meia tonta, meia zonza, abriu bem devagarinho os olhos, olhou lentamente à sua volta e abriu a boca de espanto.
À sua frente um lago de água cristalina de onde saltavam peixes dourados e prateados rodeado por árvores verdejantes e frondosas que abanavam os seus ramos e as suas copas de onde voavam pássaros de penas coloridas que chilreavam alegremente, indo pousar em flores de todos os tamanhos e de todas as espécies que se moviam para todos os lados, tudo isto ao som de uma música misteriosa e cheia de magia.
Titão ao seu lado ladrava furiosamente tentando escapar-se de um coelho branco que lhe dava patadinhas no seu focinho.
- Sejammmmm muitoooooo bemmmmvindosssss ao País das Cantigas– cantou o coelho num timbre afinado.
-Souuuuu o coelhoooo Tobiasssssss e vouuuu ser o vossoooo ciceroneeee por esteeee paísss encantadooooo.
E imediatamente apareceu a dançar pelos ares a águia Bataglia que com o seu bico bicudo pegou cuidadosamente nos visitantes levando-os por entre uma pauta de mil sons, fazendo-os pousar sobre o lombo do javali Malaquias que cantava estridentemente acompanhado pelo veado Tobias que agitava ritmadamente as suas hastes.
- Aquiiii todossss temossss que cantarrrrrr – assobiou o esquilo que se agarrara ao ombro de Alice.
- Mas eu não sei cantar – disse Alice com um ar cabisbaixo.
- Toda a gente sabe cantar – guinchou harmoniosamente o macaco Paquito – É só fechar os olhos e ir bem fundo dentro da nossa alma. Todos temos alma de cantor. É questão de encontrar o nosso próprio ritmo e nunca imitar ninguém. Cada um é como cada qual. Cada um é diferente do outro.
De repente à sua frente Alice tinha um coro de animais que cantavam alegremente cada um no seu tom, cada um à sua maneira e feitio.
Uns em tons mais graves, outros agudos, e outros nos baixos. Sopranos, contraltos e tenores, de tudo havia um pouco e muito mais do que aquilo que se podia imaginar.
Quase sem se aperceber Alice começou a cantar uma melodia de tons mágicos acompanhada por Titão que gania musicalmente, enquanto que uma chuva de estrelas cintilantes lançava pozinhos dourados fazendo com que Alice que dançava agarrada a Titão começasse a flutuar.
E de novo se sentiu a rodar e a rodopiar numa dança sem fim mas tão harmoniosa que sentiu os seus olhos a fechar.
Foi então que sentiu a língua quente de Titão que lambia furiosamente a sua cara, suplicando para se levantar.